quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Guerra colonial: «Cacimbados: A vida por um fio», recomendado por Luís Leote


Este Livro.
Guerra colonial: «Cacimbados: A vida por um fio»



Lisboa – Com uma prosa cativante, onde o humor e tragédia se cruzam espontaneamente, «Cacimbados» de Manuel Bastos, transporta-nos 35 anos atrás para a realidade brutal de luta e sobrevivência de milhares de portugueses coagidos a combater na Guerra Colonial....

Narrando alguns episódios de uma companhia de Artilharia posicionada em Mueda, Moçambique, Manuel Bastos reconstrói um tempo e um espaço carregados de acção.


Com uma expressividade minuciosa, Manuel Bastos vai ao encontro do pormenor para transforma-lo num mundo de significados, sentimentos e reflexões filosóficas sobre a condição humana dos combatentes. 
Conta-nos como «no chão, está um grupo silencioso de fantasmas preparando-se para passar a noite.»

No seu livro, Manuel Bastos, conta o soldado que nunca vacilara «nas picagens das minas, nos golpes de mão, nas emboscadas», cujo rosto nunca «acusa a menor perturbação de espírito», mas que encontra um dia para chorar «de pé apoiado na G3 como se fosse um cajado de pastor».

Manuel Correia Bastos natural de Aguim, conselho de Anadia, foi mobilizado em 1972 para Moçambique onde foi gravemente ferido em combate um ano depois. 

Na sua obra «Cacimbados: A vida por um fio» relata a sua experiência de guerra e os seus efeitos traumáticos.
Titulo: «Cacimbados: A vida por um fio»
Autor: Manuel Bastos
Editor: Babel Editores

Abraço e tenham um Feliz Natal. !!!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Eu canto p’r’a minha terra, Cancioneiro do Niassa

Eu canto p’r’a minha terra,
Já que não posso lá estar!
E canto p’ra distrair
Quem passa o tempo a chorar!
Canto também, até
mesmo sem rima;
Eu canto porque já estou
apanhado pelo clima!

(Coro) LÁ LÁ LÁ LÁ...

No Lunho, Todos nós temos
Uma missão a cumprir:
“LERPAR” de tacho e correio
E de resto, toca a rir...
Passo, também aqui,
Tempos felizes,
Vendo corridas aéreas
De patos e de perdizes.

(Coro) LÁ LÁ LÁ LÁ...

Temos também, como capa,
Oficiais e sargentos,
Que em vez de pé, dizem pata
E são todos rabujentos.
O capitão, porém,
É nosso amigo;
A quem souber cumprir bem,
Dá reforços de castigo.

(Coro) LÁ LÁ LÁ LÁ...


quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Frente à morte na luta pela vida, Cancioneiro do Niassa

Venham velhos doutores e os que contam histórias
Venham ver os que lutam sem querer buscar glórias
Anda ver meu irmão os que tombam no chão
Frente à morte na luta pela vida

Venham ver os que vivem e apostam na sorte
Venham ver os que dormem nos braços da morte
Venham ver como é que se luta com fé
Frente à morte na luta pela vida

Se há um jovem que tomba outro se levanta
Se há um jovem que chora há outro que canta
Anda ver meu amigo os que riem do perigo
Frente à morte na luta pela vida

Sabem todos que a vida é caminho duro
E que a força das armas defende um futuro
Que se guarde a imagem da imensa coragem
Frente à morte na luta pela vida

Venham velhos doutores e os que contam histórias
Que se guarde pr’a sempre nas vossas memórias
Que assim tomba no chão a minha geração
Frente à morte na luta pela vida

Frente à morte na luta pela vida

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

EU VI NA TVI, EU HOJE CUSPO FOGO..., por Manuel Lopes

  • «EU VI NA TVI, EU HOJE CUSPO FOGO»
    Todos nós vimos a triste realidade na TVI, o que nós não queríamos, pois dói muito.

    Amigos irmãos camaradas COMBATENTES. Ainda... á muito coisa para mostrar e contar, muitas maldades e traições que a todo o momento nos fazem sofrer e corroer o nosso corpo e o nosso ser, a nós «COMBATENTES E NOSSOS FAMILIARES» vou contar um triste acontecimento que se passou comigo talvez á dez anos, para mim foi um crime, um ataque, um bombardeamento, talvez igual aos que sofremos na guerra do ultramar, este foi feito por alguém a quem eu apelido de «terrorista, porco, assassino».
    Eu fiz-me sócio da associação APOIAR Portuguesa dos Veteranos de Guerra em 2001, onde eu me sentia muito bem apoiado, quando eu precisava de qualquer informação telefonava, eram pessoas impecáveis, incansáveis, os nossos amigos da APOIAR quiseram saber tudo a respeito á minha saúde, como eu me sentia da parte sistema nervoso, como estava a ser medicado e se andava a ser vigiado, o que os informei, pediram-me cópias e dados a respeito a medicação, consultas e internamentos, de tudo, eu enviei tudo pelo correio e, telefonei no momento, os nossos amigos da APOIAR, ao receberem telefonaram-me com urgência, informando que iam enviar tudo de volta e, que já tinham entrado em contacto com uma unidade hospitalar na minha Cidade de Leiria, não vou mencionar o nome pois, as pessoas competentes não merecem ser enxovalhadas pela atitude do tal terrorista, onde eu ia ser consultado e passava a ser vigiado, para eu estar atento pois, ia receber uma carta com urgência a avisar-me para me apresentar.
    Passada uma semana recebi a carta com a data e a hora e local para me apresentar na consulta, para levar toda a documentação que tinha enviado e recebido da APOIAR.
    Na data certa apresentei-me, convencido que ia ser medicado com a medicação certa para resolver o meu problema que me atormentava o sistema nervoso, as noites sem dormir, os sonhos das matas dos DEMBOS, tudo isso.
    Foi chocante, doloroso, triste, revoltante, foi como se tivesse levado uma rajada no meu peito, ainda hoje «cuspo fogo», mas, foi verdade, fui atendido por um médico que tinha idade de ser meu filho, que, me pediu-me o envelope com toda a documentação, os tais que eu tinha enviado para a APOIAR e eles me tinham devolvido com folhas muito importantes assinadas por eles, o senhor que dizia ser médico, ao ler e ver que eu tinha andado na GUERRA do ULTRAMAR, agarrou na minha papelada, olhando para mim a sorrir, rasgou e colocou no cesto do lixo, eu, ao ver tudo aquilo perguntei o que estava a fazer, respondeu, «QUE EU FAZIA PARTE DOS TAIS QUE SE CONSIDERAVAM HERÓIS, QUE QUERÍAMOS VIVER SEM TRABALHAR, VIVER À CUSTA DELE E DE OUTROS QUE TRABALHAVAM DE NOITE E DE DIA, QUE O NOSSO PROBLEMA ERA FALTA DE NOS OBRIGAREM A TRABALHAR E, SERMOS CONTROLADOS A TOQUE DE CHICOTE», que ele, também tinha andado na guerra nas três províncias e, tinha que trabalhar, eu ao ver e ouvir tal crime, como uma mola, levantei-me da cadeira, caminhei para ele, fixei o meu olhar no dele, penso que os meus olhos deviam estar maiores que as lentes dos meus óculos e a quererem saltar, só exclamei que era injusto o que eu estava a ver e a ouvir, dei mais um passo em frente, o tal senhor médico, recuou, agarrou no cesto dos papeis, saio porta fora correndo pelo corredor fora olhando para trás, talvez com medo de acontecer o que ele merecia, nem os papeis rasgados me deixou, para eu poder ir á secretaria, ou falar com o diretor da unidade para contar o que se tinha passado, fiquei de pés e mãos atadas, fiquei muito nervoso, muito revoltado e desiludido, saí porta fora, não vi o tal senhor, nem valia a pena abrir a boca pois, não tinha dados para poder mostrar e justificar o que me tinha acontecido, só me restou voltar para casa com a triste história para contar, não comuniquei a APOIAR a quem peço imensa desculpa por ter deixado de ser sócio, pois, fiquei muito revoltado e desiludido com tal atitude desse tal «turra».
    «MANUEL KAMBUTA DOS DEMBOS»

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

A mulher na Praia, por José Caseiro


A Mulher na Praia
por José Caseiro



Abril de 1974. 
Portugal ficou em festa naquele dia 25, mas havia lá longe na ex-província de Moçambique e já na cidade da Beira, os militares da CART 3503, sem que tivessem a noção do que se estava a passar em Lisboa.

Estavam tristes, não por saberem da revolução, mas por terem o embarque marcado de regresso para a Metrópole no dia 26 e assim se verem obrigados a ficar mais uns dias.

Chegamos a Portugal no dia 28 de Abril de 1974, a CART 3503, sendo a primeira companhia a regressar a Portugal após o 25 de Abril. Regressavam agora, não porque a revolução lhes encurtara a comissão mas sim porque a sua comissão tinha sido longa de mais, porque já fazia 28 meses que lá estávamos, e sempre no pior sítio da guerra em Moçambique, sempre em Mueda, distrito de Cabo Delgado.

Já em Lisboa, com uma chegada muito discreta, quase sem familiares à nossa espera porque quase todos que tinham intenções de irem para Lisboa esperar-nos foram informados por telegrama para não irem, porque o nosso regresso tinha sido adiado e sem data marcada.

Chegado a casa e depois de todos aqueles abraços e beijos a festejarmos o meu regresso, foi tempo, nos dias seguintes, de ir visitar os restantes familiares e amigos e desfrutar este mar maravilhoso na praia de Matosinhos, praia onde passei a maior parte da minha infância e mocidade, praia esta que ao seu lado tem o porto marítimo e de pesca de Leixões, onde os seus barcos saem ao anoitecer para a faina de pesca, e onde, pela manhã as mulheres dos pescadores tinham por hábito irem sentar-se na praia viradas para a entrada do porto esperando que barco onde o seu marido trabalhava regressasse da fauna da pesca.

E cada barco era conhecido por um pormenor, que ao longe só elas reconheciam. 
Depois dirigiam-se para o cais de descarga, levando-lhes o pequeno-almoço.

Como de costume após a chegada do ultramar desfrutava-se um mês de férias, para aqueles que podiam, porque infelizmente alguns, por necessidade iam logo trabalhar, nem tinham tempo para descansar a cabeça, eu felizmente tive a possibilidade de desfrutar até mais que um mês e sempre que podia ia até à praia caminhar, saboreando aquele cheiro da maresia e relaxando com o ondular daquelas ondas calmas da praia de Matosinhos.

Entretanto havia uma mulher vestida de negro que sempre que eu ia caminhar junto à praia lá estava, e enquanto as outras mulheres após a chegada dos maridos iam saindo da praia aquela mulher ali permanecia até tarde.

A mulher do pescador quando de luto, usava um lenço negro que punha na cabeça e cobria grande parte da cara, o que tornava difícil identificá-la ao primeiro olhar, mas a minha curiosidade foi mais forte que eu, a pouco a pouco, fui passando mais próximo para tentar descobrir de quem se tratava, e para meu espanto, aquela mulher era a mãe de um soldado português que tinha morrido no ultramar bem próximo de Mueda em Moçambique, foi meu amigo de infância, tinha embarcado no mesmo dia, no mesmo barco que eu, só que ia em rendição individual, fez a picada de Porto Amélia até Mueda com a nossa companhia, esteve em Mueda alguns dias à espera da companhia porque esta ia rodar para uma zona melhor, pensavam eles, e todo este tempo sempre que podia estava com ele, entretanto a companhia onde ele foi integrado passou por Mueda e ele lá seguiu com ela para o tal lugar que eles pensavam que seria melhor que o buraco onde tinham estado.

Os meses foram passando sem que eu tivesse notícias deste amigo de infância, até que aquele dia fatídico chegou.

Estava eu e o meu grupo de combate, nesse dia, de segurança às Águas quando se começou a ouvir o barulho dos hélis a aproximarem-se de Mueda vindo da direcção onde se encontrava a companhia do meu amigo de infância, olhando para os hélis, algo estranho senti, uma dúvida se levantou que me levou a perguntar a mim mesmo: - Será que…? 
- Tentei esquecer, porque não tinha nenhum indício de quem se tratava e do que se tratava, mas como as más notícias correm depressa, rapidamente soube que tinha sido uma viatura que pisou uma mina anti carro e que a rebentou, originando mortos e feridos graves.

A notícia de que havia mortos preocupou-me, pelo algo estranho que senti quando os hélis estavam a passar por mim, minutos antes. 
Tendo um bom relacionamento com o 1º sargento do hospital, na primeira oportunidade que tive fui pedir-lhe que me deixasse ver os nomes dos feridos e dos mortos que tinham dado entrada naquele dia, na esperança de não encontrar lá o nome do meu amigo.

Foi um choque enorme, um nó na garganta, uma raiva. 
Foram mil e um pensamentos e palavrões que dirigi naquele momento aos autores da morte daquele meu amigo de infância, quando li o seu nome na lista dos mortos.

Pedi para ir ver o corpo mas não foi possível, porque tinha ido para a casa mortuária e esta já se encontrava fechada.

Bastante abalado fui para a flat escrever um aerograma a uma pessoa amiga e vizinha dos pais do falecido, aerograma que levaria, em média, quatro a cinco dias a chegar ao destino, pensando eu, que quando o aerograma chegasse, os pais já eram conhecedores da morte do filho, e aquele aerograma seria a explicação de como aconteceu, o que, segundo a informação que me deram, com a explosão, foi projectado, e ao cair, bateu com a cabeça numa pedra e teve morte imediata. 

Só que o aerograma chegou no mesmo dia que os dois telegramas que foram enviados aos pais, o primeiro da parte da manhã a dizer que o filho tinha sido gravemente ferido e o segundo da parte da tarde a dizer que não tinha resistido aos ferimentos e tinha falecido.

A pessoa amiga a quem escrevi, quando chegou a casa depois de um dia de trabalho, deparou com os vizinhos aos gritos e com os pais em pranto pela morte do filho, esteve um pouco junto deles e foi depois para casa, onde só então viu na caixa do correio o meu aerograma. 

Diz-se que as más notícias correm velozes, mas quando chegam todas ao mesmo tempo, fazem pensar que o destino é demasiado cruel.

Passados mais de ano e meio após a morte deste meu amigo vou encontrar a sua mãe ali sentada na praia olhando para o mar dia após dia, achei que deveria ir falar com ela para a confortar um pouco, porque ela sabia que o seu filho tinha ido comigo para o ultramar e que tinha estado comigo em Mueda, mas para mim estava a ser difícil. 

Como seria o início da minha conversa com ela? 
Lá comecei por lhe perguntar se tinha algum familiar a andar ao mar, ao que me respondeu que não; deu-me um grande abraço e beijos de satisfação por me ver, sabendo que eu tinha chegado recentemente do ultramar. 

Aproveitando aquela satisfação de me ver perguntei-lhe:
- Então porque vem todos os dias aqui para praia?
A resposta foi rápida, e deixou-me por momentos sem palavras:
- Venho para aqui esperar pelo navio que levou o meu querido filho para o ultramar e que o há-de trazer de volta para os meus braços.

Sem palavras e sem saber o que fazer, lá encontrei forças para continuar a conversa dizendo-lhe:
- Mas já trouxeram o seu filho porque... 
- Ia dizer-lhe que o filho já tinha falecido há mais de ano e meio, mas ela interrompeu-me: - Dizem-me que o meu filho já veio, mas não acredito, porque ele quando partiu para o ultramar prometeu-me que voltaria para me abraçar, e já lá vão mais de dois anos e ele não voltou para os meus braços.

Quantas mães depois de terem perdido os seus filhos na guerra do ultramar se sentaram à porta de casa, ou aguardaram num caminho, numa estrada, olhando para o infinito na esperança que o seu querido filho aparecesse com as malas nas mãos a correr para os seus braços? 
Como a mãe daquele meu amigo… 

Uma espera em vão, porque o seu filho estava morto e enterrado.
Será que esta mãe, agora já falecida, teria encontrado o seu querido filho na outra vida, e tê-lo-ia abraçado fortemente conforme desejou enquanto viva?

Este meu amigo não deixou apenas uma mãe sem o filho, deixou também uma filha sem o pai, que nunca o haveria de conhecer, pois que quando este embarcou para Moçambique deixou a mulher grávida de poucos meses.

A guerra faz com que tantas desgraças juntas levem a pensar que o destino é mesmo demasiado cruel.

por José Caseiro |

domingo, 13 de novembro de 2016

De lenço na mão, por Firmino Ruas Mendes


De lenço na mão.


Terminou há pouco a transmissão da grande reportagem emitida pela TVI - MULHERES DA GUERRA - que vi atentamente e que, a cada minuto que passava, me faziam tolher os nervos, me enegreciam a alma, me paravam a respiração e me deixava sem palavras.

Foram poucos minutos de emissão, mas largos na sua plenitude, na recordação das memórias inexoráveis da desgraça, das lembranças de anos perdidos, da dor e da tristeza.

Bebi, sábias palavras, saídas da boca de mulheres e filhos. 

Pensei nos meus que da guerra, felizmente, apenas sabem o que o Pai lhes conta.

Cheguei ao fim, emocionei-me, chorei e vou guardar o lenço que me enxugou aquelas gotas salgadas, para, junto do meu espólio "pós mortem", sirvam como memória futura.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Circuncisão, por José Carlos Galo

CIRCUNCISÃO

C.Cav. 2376 - Nangade 1968/69

A Circuncisão aos rapazes era feita anualmente por um "Especialista" que se deslocava de aldeia em aldeia em certas zonas do Cabo Delgado.



Por motivos da guerra este especialista já não vinha a Nangade há quatro anos.
Deste facto resultou que, no ano de 1968, foram circuncisados miúdos entre 4/5 anos e 14/15 anos.

Esta "cirurgia" era efetuada sem qualquer higiene.
Puxavam a pele do aparelho urinário, dos rapazes, para a frente e cor...tavam-na em cima de uma tábua, com uma faca.

Posteriormente os miúdos foram levados para fora da aldeia, onde tinham construído uma palhota junto ao arame farpado e eram guardados por milícias.

Passados uns dias fui chamado para analisar o estado em que os miúdos se encontravam.
Estes estavam vestidos com uma espécie de "capulana" branca, tinham um fio á volta da cintura que agarrava, na frente uma espécie de fisga onde ficava entalado o seu aparelho reprodutivo.
Segundo diziam era para não tocar nas pernas ???.
Tinham também, na mão, um enxota moscas.

O estado de saúde dos rapazes era péssimo.
O seu "aparelho" estava muito inchado e vermelho (em relação ao tamanho era o equivalente a uma mão fechada).

Devido á infeção, tinham febre bastante alta, com ínguas nas virilhas e dificuldade em urinar.

Com o tratamento local (água oxigenada e mercúrio cromo) e injeções de penicilina passados uns dias a rapaziada já estava em forma.

A circuncisão era "Tabu", principalmente entre as mulheres.

Batucadas e churrascadas e estava passada a época da circuncisão e os miúdos preparados para a reprodução. 




Quero acrescentar que quando estive no Hospital em Nampula, Nov./69 estava lá um F. Mil. que tinha feito a circuncisão neste hospital.

O pior era durante a noite, certamente por motivos óbvios, o material inchava e ele tinha de ir para o duche frio para acalmar..

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Não sei o que me espera, por Manuel Kambutas dos Dembos

«NÃO SEI O QUE ME ESPERA»
Estou triste como a noite escura
Não sei o que amanhã me vai acontecer
Sei onde vou e porque vou e devo ir
Para ver à tardinha o anoi...tecer
Não vale a pena lamentar
A nossa vida é uma passagem
Tentemos vivê-la com dignidade
Para fazer dela uma miragem
Dos fracos não fala a história
Mas havia de falar
Todos aparecemos no mundo
Para nele caminhar.


«MANUEL KAMBUTA DOS DEMBOS»

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

O Pai partiu para a Guiné..., por Maria Gabriela Serrão

Partilhei de - Maria Gabriela Serrão - José Serrão
Guiné

"Um dia, porém, ali desembarcou a guerra, capaz de todas as variedades da morte.
Em diante, tudo mudou e a vida se tornou demasiado mortal." Mia Couto
...
Faz hoje, dia 11 de Novembro, 43 anos que o Pai partiu para a Guiné...
Este dia sempre foi um misto de sentimentos aqui por casa...
Umas horas do dia, o Pai mais triste...
Outras horas mais feliz...
Porque apesar de tudo, esses tempos trazem consigo também boas recordações, bons amigos, bons cheiros, bons sabores, boas cumplicidades...
Até o hábito de fumar cachimbo...

Tenho a felicidade de conhecer muitos amigos do meu Pai que com ele estiverem e apesar de não ter vivido nessa época, ouvi, recolhi e tenho fotos, cartas, bilhetes de avião, descrições, .... de alguns e principalmente do meu Pai...

Que orgulho imenso do meu Pai, do S., do M., do B.D., do I., do D., do A. e de muitos mais amigos que aprendi a conhecer e conviver...
Muitos deles nascidos naquela terra com cor de sangue e barro, mas de uma beleza imensa...
Muitos transportam AINDA (sim, pq o tempo parece não passar por eles...) a mágoa dos companheiros que lá ficaram deixados, as sepulturas que não foram visitadas, os corpos que lá permanecem, os amigos que foram fuzilados, os acordos de Argel, os negociadores (mandatados por quem?), as famílias dos militares africanos, a falta de reconhecimento por parte de alguns... de militares com uma coragem e bravura fora do vulgar (porquê? porque a cor da pele é diferente daquele que transportamos?? Nem quero opinar sobre isso...)...

Ouço muitas vezes mágoa e revolta com misto de alegria e cumplicidade...
Uma confusão de sentimentos?!
Não acho...
Parece-me que foram criados laços num determinado espaço de tempo, que não são passíveis de serem quebrados, que ultrapassam a cor da pele, a localização do solo, o distanciamento inerente aos anos ou até mesmo a religião...
Sim, porque tenho conhecido muçulmanos que mostraram-me a verdade dos Islão...
Que obviamente são contra o terrorismo e apenas praticam a sua fé...
Parece-me cada vez mais que passados 43 anos...
O tempo não apaga e só propaga a saudade de uma terra que tanto sofrimento lhes trouxe...
Mas também tanta cumplicidade!
Meu Deus!!

Agradeço o 25 de Abril também pelo facto de ter feito o meu Pai e outros regressarem...
Pois por esses dias ainda lá andavam...
Regressou com saúde, pelo menos física e assim conheceu a nossa Mãe e mais tarde constituíram a nossa família...

Mas ainda hoje chora o facto de 4 dias antes de 25 Abril 74 ter perdido um grande amigo, cujo filho ainda hoje o contacta...

Bem hajam a todos e ao Pai...
Adoro-te e sinto um orgulho imenso de todo o teu percurso...
És e serás sempre um dos meus exemplos... ponto de referência e orientação
Maria Gabriela Serrão

Nota: Escolhi esta foto tirada pelo meu Pai... Porque acho brilhante e simboliza uma paz imensa numa terra linda que viveu e vive um turbilhão de emoções... Guiné
— com José Serrão.


domingo, 30 de outubro de 2016

Espera-me..., por Álvaro Giesta

O comboio levou-me para o leste em direção à fronteira com a Zâmbia.
Eram nove e quinze da manhã, daquele dia chuvoso de Dezembro de 71. Dia 12.
Exatamente como imaginava!

Apenas viajámos de dia.
À noite, pernoitámos em Silva Porto.
A partir daqui e até ao Luso, à frente da máquina que puxava as carruagens, ia outra a servir de rebenta minas.

 E os meus poemas começaram a nascer… sobre o joelho, onde apoiava o papel, escrevia:
 
“Espera-me. ...
Até quando não sei dizer-te,
mas afianço-te
com fé
que voltarei!
Espera-me nas tuas manhãs vazias
nas minhas tardes longas
nas nossas noites frias
e não escondas de mim essa lágrima
teimosa
onde está escrito
“não te vejo nunca mais”
Não esqueças o que fomos ontem
se o amanhã não existir
ou não voltar,
recorda o hoje
permanentemente
mesmo que não haja cartas
que nos possam recordar.
 
Nova Lisboa, Angola
12 de Dezembro de 1971
- para uma comissão de 14 meses no Leste de Angola
C. Caç. 205 (Cacolo), integrada no Batalhão de Caçadores 2911 (Henrique de Carvalho)
 
In “Há o Silêncio em Volta” (poética de guerra), edições Vieira da Silva do poeta Álvaro Giesta
 

sábado, 29 de outubro de 2016

ENVIO DE MILITARES PARA ÁFRICA, por Manuel Magrinho


Manuel Angelina Gerou Magrinho
ENVIO DE MILITARES PARA ÁFRICA



Esta história que vou contar
Se passou com todos nós
Não foi fácil de deixar...
Pais irmãos e avós
Fomos para África enviados
Como se fosse mercadoria
Uns voltavam estropiados
Outros,nunca mais ninguem os via
Tudo para nós era estranho
Pouco ou nada nos diziam
Aprendiamos á nossa conta
Quando na guerra nos metiam
Foram tempos bem dificeis
Que nossa geração passou
Atingindo toda a familia
Que a todos muito marcou
Pais, que seus filhos levaram
Para muitas milhas daqui
Chegava um, partia o outro
Tornando-os muito infeliz
Comigo assim se passou
Depois do meu irmão chegar
O martirio continuou
Depois de eu abalar.


M. Magrinho

21/10/2014

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

No encalço de Sebastião Mabote..., por António Mondino

A guerra em Moçambique.
Homenagem aos que morreram
A guerra em África não foi uma miragem ou assunto criado por uma mente imaginativa.
Houve guerra em África.
Eu estive lá.
Morreu muita gente, dum lado e doutro, como acontece em todas as guerras.
O texto que abaixo produzo é uma pequena homenagem aos que morreram.
Hoje, que é 25 de Abril.
Principio do fim da guerra.

As fotografias que vos mostro e que eu próprio tirei, são da operação Crasto 3, realizada entre 9 e 16 de Maio de 1973 e que vos vou descrever recorrendo à memória.
Passaram 41 anos desde então.
O objetivo essencial desta operação era capturar o alto dirigente da Frelimo, Sebastião Mabote e destruir a Base Ponde.

Aos serviços de informações militares chegavam notícias de que os guerrilheiros da Frelimo estavam a estender a ação para Sul.
Havia relatos de ações na estrada que ligava a Beira a Vila Pery.
Na Gorongosa, um médico espanhol amigo do General Franco, em visita ao Parque Nacional, foi morto – e, na sequência deste incidente, é solicitada a intervenção do meu grupo de combate, a 15 de Agosto de 1973, para proteção dos poucos turistas rodesianos e sul-africanos que então visitavam aquele extraordinário santuário da vida animal.
Nas principais vias do distrito estavam a rebentar – e a fazer cada vez mais vítimas – muitas minas anticarro e antipessoal, tanto na estrada internacional que liga Moatize ao Zóbué, na fronteira com o Malawi, como na estrada entre Tete e o Songo, que era a via por onde se transportava todo o material para a construção da Barragem de Cabora Bassa.
As obras da barragem atingiam, neste momento, uma fase decisiva: a empresa italiana TLC já estava a estender os fios de alta tensão para transportar a energia para a África do Sul.
Em Outubro de 1973, eu e os “meus rapazes” seriamos destacados para proteger as obras da barragem.

A agitação social que se fazia sentir em toda a região de Tete tinha como origem mais profunda a retaliação que as tropas portuguesas infligiam nas populações indígenas por causa do rebentamento das minas.
Esta situação atinge o seu período mais escaldante com os acontecimentos ocorridos no aldeamento de Wiriamu, em 16 de Dezembro de 1972, quando foi abatido, por ‘comandos’, um número considerável de habitantes, como represália por uma emboscada sofrida um dia antes por uma patrulha do Exército, perto de Corneta, na estrada da Beira para Tete.

Em Abril de 1973, a tensão era imensa em toda a região de Tete.
Foi para este barril de pólvora que foi chamada a 2.ª Companhia de Caçadores Pára-quedistas do BCP32.
Chegámos a Tete em 16 de Abril de 1973, depois de um voo de 6 horas a bordo de um avião ‘Nord Atlas’.

A companhia desloca-se, primeiro, para Capirizanje, onde a tropa portuguesa, segundo algumas fontes, levara a cabo um massacre nas povoações de Ngunda e Ncena: falou-se, então, em cerca de 200 mortes.

A 7 de Maio, o capitão Sebastião Martins, comandante da companhia, convoca-me, a mim e ao alferes Fernando Dias, para uma reunião de emergência.
Mandou-nos preparar os nossos homens para uma operação importante que seria lançada dentro de poucas horas.
Havia informações seguras de que uma alta figura militar da Frelimo, o comandante Sebastião Mabote, iria passar no dia seguinte pela ‘Base Ponde’ – onde estaria um número apreciável de guerrilheiros e armas.
Face à importância e à segurança das informações recolhidas, o brigadeiro Armindo Videira, comandante da Zona Operacional de Tete, solicita um pelotão de 'páras' para executar a missão: capturar aquele importante elemento inimigo, destruir a base e lançar a insegurança numa zona nevrálgica de passagem dos guerrilheiros.
Assim, eu e o meu amigo alferes Fernando Dias, recebemos de imediato instruções precisas sobre a missão: lançar um assalto sobre a Base Ponde – a ‘Operação Crasto 3’ e capturar Sebastião Mabote.

No dia 9 de Maio de 1973, ao princípio da tarde, no Aeródromo Base n.º 7, em Tete, os helicópteros começaram a aquecer os rotores para levarem duas dezenas de pára-quedistas e uma guia negra. Estava em marcha a ‘Operação Crasto 3’ – com a duração prevista de oito dias.
A viagem a bordo dos hélis foi alucinante – sempre rentinho à copa das árvores.
Durou 2 horas e 15 minutos, até algures no interior profundo do distrito de Tete, a uma distância de cerca de 30 km do objetivo, a Base Ponde.

Saltámos dos helicópteros e ficámos logo ali emboscados, junto a um trilho, para impedir que alguém passasse no outro sentido e fosse dar o alarme aos guerrilheiros.
Ao fim de cerca de 15 minutos começam a chegar várias pessoas. À frente vinha um jovem, que aparentava 18 ou 19 anos, seguido por dois homens e várias mulheres e crianças.
Não deixámos passar ninguém: foram feitos prisioneiros, para que a nossa presença não fosse assinalada.
Duas mulheres tinham golpes nos braços.
O enfermeiro Cunha tratou-as.
O alferes Dias, entretanto, já tinha mandado regressar os hélis para levarem os prisioneiros para Tete, onde seriam interrogados.

Anoitecia rapidamente.
Iniciámos a marcha por um vale apertado e profundo, conduzidos pela nossa guia.
Só havia um trilho, pelo que era pouco provável que alguém da população nos tivesse ultrapassado para dar o alarme.
Caminhámos durante toda noite em direção ao objetivo.
Fomos sempre seguidos de muito perto por alguns vultos com pequenas luzes na mão, mas que não se atreviam a ultrapassar a nossa coluna.
Prevíamos atingir o objetivo por volta das 3 horas da manhã.
Muito perto dessa hora, já estávamos a tomar posições com a base inimiga à vista.
Ainda estava tudo calmo nas palhotas.
O negrume da noite começava a desaparecer.
Quando a claridade veio, vimos as sentinelas e os guerrilheiros a levantarem-se e a deslocarem-se de umas palhotas para as outras.
Eram muitos.
Mas, pareceu-nos, a mim e ao Dias, que as movimentações e as sentinelas que observávamos não indiciavam que estivesse ali 'gente importante' – de outro modo, o reforço de vigilância seria maior.
Perto das 4 horas decidimos lançar o ataque.
Tinha que ser cuidadoso – mas firme e violento, com forte poder de fogo de G3 e de morteiradas. Não sabíamos quantos guerrilheiros havia na base.
Nós éramos apenas 20.
A nosso favor só tínhamos o fator surpresa.

À ordem de fogo, avançámos.
Todos em linha.
As primeiras palhotas estavam a cerca de 100 metros.
Atacámos decididos – mas, a poucos metros do núcleo central da base, caímos dentro de uma trincheira que a circundava.
Valeu-nos que estávamos preparados e treinados para todas as eventualidades.
Grito para os meus homens tentarem sair rapidamente daquele fosso.
Alguns subiram mais rapidamente e mantiveram a iniciativa de fogo – enquanto outros se chegavam de novo à frente.
Olho para o Dias, que ia à minha esquerda e sinto que está tudo sob controlo.
Conseguimos ultrapassar aquele obstáculo inesperado, mas perdemos segundos preciosos.
Os guerrilheiros ganharam alguma segurança na sua fuga, apesar de constantemente flagelados pela nossa morteirada.
O inimigo praticamente não respondeu ao nosso tiroteio.
Sentimos poucos tiros e muito altos.
Eles preferiram fazer uma retirada estratégica e aguardar um momento mais oportuno para nos fazer frente.
Em dez minutos, tínhamos a base ocupada e as palhotas revistadas.
A base era constituída por uma escola, um posto de saúde, locais de reunião e, sobretudo, palhotas de habitação.
A ordem era para não ficar nada de pé.
Incendiámos tudo.

Na refrega, um dos nossos militares é ferido sem gravidade, um guerrilheiro é morto e é capturado um outro.
Apanhámos algum material de guerra, nomeadamente duas metralhadoras, granadas, binóculos, fardas e documentos.
Não encontrámos vestígios da presença de Sebastião Mabote.
Creio, hoje, que ele tinha projetada uma visita à base uns dias mais tarde.
O objetivo de destruir a base estava cumprido, mas a operação ainda não estava terminada.
A tensão era enorme.
Não podíamos estar ali mais tempo à espera que o inimigo se reorganizasse e nos flagelasse com morteirada.
Saímos rapidamente da zona – e montámos uma emboscada nos trilhos de acesso à base.
Sabíamos, por experiência, que alguns guerrilheiros poderiam regressar para verificar os estragos.
Não se aproximaram.
Flagelaram-nos com alguns tiros e morteiradas sem grande importância.
Passámos o resto do dia em constante movimentação para despistar os guerrilheiros a fim de encontrarmos um local seguro para dormir.
Acreditávamos que a noite seria um inferno de fogo-de-artifício.
E foi.
Escurecia quando começaram as primeiras morteiradas.
Quem passou por momentos idênticos sabe o que é ouvir o ‘baque’ da saída da granada do morteiro sem saber onde ela irá cair.
Felizmente, nenhuma caiu perto.
A partir de certa altura, pudemos descansar.

Os dias seguiram-se como havíamos previsto para esta operação, que era montar emboscadas nos trilhos principais de modo a podermos obter mais alguns resultados, capturar inimigos e armas e, porventura, darmos de caras com Sebastião Mabote.

Após uma noite passada com normalidade, aconteceu a tragédia.
Era a manhã de 15 de Maio.
Faltava um dia para terminar a operação.
Estávamos emboscados perto de um trilho e escondidos entre capim mais alto que um homem.
Às tantas, ouvimos o capim a mexer escassos metros mais à frente.
A tensão aumentou.
Podia ser o inimigo que se aproximava.
O furriel T... não conseguiu aguentar a pressão e abriu fogo.
Fez apenas dois tiros.
Ouvimos um urro angustiante que quebrou o silêncio daquela manhã.
Quem quer que fosse, caiu de imediato com um grande gemido saído das entranhas.
Fomos rapidamente ver o que se passara.
Quando julgávamos que íamos encontrar um guerrilheiro estendido no chão, verificámos horrorizados que era um dos nossos – o Louro, o primeiro-cabo António Luís Pires Louro, natural de Monforte da Beira, tinha saído da zona de emboscada, sem avisar os companheiros do lado, para fazer uma necessidade fisiológica.
Estava ali a esvair-se em sangue, curvado, com a cabeça junto aos joelhos, atingido por duas balas que lhe entraram junto ao umbigo.
Ia morrer.
O alferes Dias chamou pelos enfermeiros Cunha e Balau.
O Balau ainda lhe deu uma injeção para manter o ritmo cardíaco, mas já era tarde.
O Furriel T... estava inconsolável.
A tragédia também passava por ele – embora não se sentisse culpado, pois não fora descuido seu, nem falta de atenção, nem quebra de qualquer regra de segurança.
Se a tensão já era muita, imagine-se o estado de angústia que se apoderou daquele grupo de homens, bem preparados para a guerra, mas nunca suficientemente preparados para verem um camarada morto nas circunstâncias terríveis em que esta ocorreu.
Pouco tempo depois, começa o tiroteio dos guerrilheiros.
Apercebem-se do local onde estamos e disparam alguns tiros e morteiradas.
Saímos rapidamente da zona com o corpo do Louro às costas.
Fui para a frente do pelotão para sairmos dali imediatamente.
A determinada altura, olho para trás e vejo o alferes Dias com o corpo do Louro aos ombros.
O Louro era do pelotão do Dias que, devido às suas qualidades de combatente, o promovera a primeiro-cabo, sendo já um dos veteranos do grupo de combate e que dentro de pouco tempo acabaria a comissão de serviço.

Chamámos um helicóptero para a evacuação urgente.
Não havia muito mais a fazer pela vida Louro, mas poderíamos fazer com que o corpo chegasse o mais rapidamente a Tete.
Não foi fácil fazer descer o helicóptero.
Na primeira tentativa de aterragem, ouviram-se tiros e o piloto abortou a manobra e voltou a subir.
Procurámos outro local, mas a vegetação não permitia a descida completa até ao solo.
Finalmente, encontrámos um lugar seguro que permitiu a evacuação do corpo – e, se a memória não me trai, seguiu também o furriel que estava emocionalmente destroçado.
No dia seguinte acabou a operação, com mais um ou outro tiro e morteirada, mas sem outros factos dignos de especial menção.





quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Ataque a lança misseis 122 mm, por Alexandre Nogueira dos Santos

 
 
Duilio Caleca, nunca consegui entrar num abrigo Pá.
 
Estive de cama 3 semanas com os rins avariados e foi o enfermeiro Agapito quem me safou com injecções directas nos rins a frio e desmaiado.
 
Quando me levantei para ir comer à messe, pesava 42 quilos.
 
Veio um ataque e pedi ao Sampaio de Op. Especiais que estava num abrigo - Pá - leva-me à minha zona de defesa e ele agarrou-me pelo blusão do camuflado e depois de umas centenas de metros sentou-me no banco do meu obús e depois foi só fazer o que tinha de ser feito.
 
Nunca senti amargura mas no final de cada ataque, o pessoal trazia 3 ou 4 grades de Laurentina fresquinha, eu bebia de seguida umas 5 ou 6 e ficava em paz comigo mesmo!
 
Esse ataque em 2 de Abril de 1974 começou às 8:05 da manhã e só acabou às 12:40.
 
Usei granadas de fumo para proteger o nosso pelotão das águas, anulei duas rampas e fartei-me de usar espoletas de tempo para as outras mas não conseguia nada até que pela rádio ouvi: Daqui Diogo Neto - meu caro Santos, dê-me referências pois vou de Mueda com uma esquadrilha de Fiat.
 
Depois de seguir as minhas indicações com humildade superior, o Gen. Diogo Neto foi com os restantes, fantástico!
 

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Mina anticarro, por António Conde

 
 
Quanto á Mina anticarro, recordo-me de ter detetado uma muito próximo do Trilho do Chindorilho.
Um colega, (o Seop), limpou-lhe a terra de cima, deitou-lhe a mão á asa para a puxar.
Eu apercebi-me de qualquer coisa do lado, entre a Mina e a terra e mandei para que parasse imediatamente.
 
 
 
Arranjamos uma pequena gancha, porque também já tínhamos ouvido falar nisso, prendemos uma corda á asa da mina, depois a corda em cima da gancha, próximo do buraco, puxámos e a gancha faz com que a Mina saia do buraco.
 
Mas o que aconteceu, foi que a Mina saltou do buraco e daí a três ou quatro segundos explodiu no buraco uma granada de mão.
 
 
 
Portanto os Turras faziam uma pequena cavidade entre a Mina e a terra, colocavam nessa cavidade uma granada de mão, com a cavilha voltada para o lado da Mina, onde ficava ali entalada entre a Mina e a terra.
 
Tiravam a cavilha, cobriam com terra, sempre com muito cuidado desfaçavam o local o melhor possível e ali estava a ratoeira pronta.
 
Se não fosse detetada e calcada com uma viatura, explodia a Mina e a granada.
 
Se fosse detetada, colocava-se um petardo de 250g. em cima da Mina e lá explodia tudo.
 
Alguns curiosos, gostavam de as levantar, se não estivessem armadilhadas, tudo bem; mas se não se apercebiam da armadilha, ao mexer com a Mina para a levantar, dali a alguns segundos rebentava a granada de mão e então explodia tudo junto e desaparecia com quem estava á volta.
 
Foi assim que aconteceu a um militar, quando em fevereiro de /72, a minha Companhia seguia pela primeira vez de Mueda para o Sagal, onde acampámos.
 
Os poucos e pequenos bocados que se encontraram, couberam numa caixinha de ração de combate.!