domingo, 30 de outubro de 2016

Espera-me..., por Álvaro Giesta

O comboio levou-me para o leste em direção à fronteira com a Zâmbia.
Eram nove e quinze da manhã, daquele dia chuvoso de Dezembro de 71. Dia 12.
Exatamente como imaginava!

Apenas viajámos de dia.
À noite, pernoitámos em Silva Porto.
A partir daqui e até ao Luso, à frente da máquina que puxava as carruagens, ia outra a servir de rebenta minas.

 E os meus poemas começaram a nascer… sobre o joelho, onde apoiava o papel, escrevia:
 
“Espera-me. ...
Até quando não sei dizer-te,
mas afianço-te
com fé
que voltarei!
Espera-me nas tuas manhãs vazias
nas minhas tardes longas
nas nossas noites frias
e não escondas de mim essa lágrima
teimosa
onde está escrito
“não te vejo nunca mais”
Não esqueças o que fomos ontem
se o amanhã não existir
ou não voltar,
recorda o hoje
permanentemente
mesmo que não haja cartas
que nos possam recordar.
 
Nova Lisboa, Angola
12 de Dezembro de 1971
- para uma comissão de 14 meses no Leste de Angola
C. Caç. 205 (Cacolo), integrada no Batalhão de Caçadores 2911 (Henrique de Carvalho)
 
In “Há o Silêncio em Volta” (poética de guerra), edições Vieira da Silva do poeta Álvaro Giesta
 

sábado, 29 de outubro de 2016

ENVIO DE MILITARES PARA ÁFRICA, por Manuel Magrinho


Manuel Angelina Gerou Magrinho
ENVIO DE MILITARES PARA ÁFRICA



Esta história que vou contar
Se passou com todos nós
Não foi fácil de deixar...
Pais irmãos e avós
Fomos para África enviados
Como se fosse mercadoria
Uns voltavam estropiados
Outros,nunca mais ninguem os via
Tudo para nós era estranho
Pouco ou nada nos diziam
Aprendiamos á nossa conta
Quando na guerra nos metiam
Foram tempos bem dificeis
Que nossa geração passou
Atingindo toda a familia
Que a todos muito marcou
Pais, que seus filhos levaram
Para muitas milhas daqui
Chegava um, partia o outro
Tornando-os muito infeliz
Comigo assim se passou
Depois do meu irmão chegar
O martirio continuou
Depois de eu abalar.


M. Magrinho

21/10/2014

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

No encalço de Sebastião Mabote..., por António Mondino

A guerra em Moçambique.
Homenagem aos que morreram
A guerra em África não foi uma miragem ou assunto criado por uma mente imaginativa.
Houve guerra em África.
Eu estive lá.
Morreu muita gente, dum lado e doutro, como acontece em todas as guerras.
O texto que abaixo produzo é uma pequena homenagem aos que morreram.
Hoje, que é 25 de Abril.
Principio do fim da guerra.

As fotografias que vos mostro e que eu próprio tirei, são da operação Crasto 3, realizada entre 9 e 16 de Maio de 1973 e que vos vou descrever recorrendo à memória.
Passaram 41 anos desde então.
O objetivo essencial desta operação era capturar o alto dirigente da Frelimo, Sebastião Mabote e destruir a Base Ponde.

Aos serviços de informações militares chegavam notícias de que os guerrilheiros da Frelimo estavam a estender a ação para Sul.
Havia relatos de ações na estrada que ligava a Beira a Vila Pery.
Na Gorongosa, um médico espanhol amigo do General Franco, em visita ao Parque Nacional, foi morto – e, na sequência deste incidente, é solicitada a intervenção do meu grupo de combate, a 15 de Agosto de 1973, para proteção dos poucos turistas rodesianos e sul-africanos que então visitavam aquele extraordinário santuário da vida animal.
Nas principais vias do distrito estavam a rebentar – e a fazer cada vez mais vítimas – muitas minas anticarro e antipessoal, tanto na estrada internacional que liga Moatize ao Zóbué, na fronteira com o Malawi, como na estrada entre Tete e o Songo, que era a via por onde se transportava todo o material para a construção da Barragem de Cabora Bassa.
As obras da barragem atingiam, neste momento, uma fase decisiva: a empresa italiana TLC já estava a estender os fios de alta tensão para transportar a energia para a África do Sul.
Em Outubro de 1973, eu e os “meus rapazes” seriamos destacados para proteger as obras da barragem.

A agitação social que se fazia sentir em toda a região de Tete tinha como origem mais profunda a retaliação que as tropas portuguesas infligiam nas populações indígenas por causa do rebentamento das minas.
Esta situação atinge o seu período mais escaldante com os acontecimentos ocorridos no aldeamento de Wiriamu, em 16 de Dezembro de 1972, quando foi abatido, por ‘comandos’, um número considerável de habitantes, como represália por uma emboscada sofrida um dia antes por uma patrulha do Exército, perto de Corneta, na estrada da Beira para Tete.

Em Abril de 1973, a tensão era imensa em toda a região de Tete.
Foi para este barril de pólvora que foi chamada a 2.ª Companhia de Caçadores Pára-quedistas do BCP32.
Chegámos a Tete em 16 de Abril de 1973, depois de um voo de 6 horas a bordo de um avião ‘Nord Atlas’.

A companhia desloca-se, primeiro, para Capirizanje, onde a tropa portuguesa, segundo algumas fontes, levara a cabo um massacre nas povoações de Ngunda e Ncena: falou-se, então, em cerca de 200 mortes.

A 7 de Maio, o capitão Sebastião Martins, comandante da companhia, convoca-me, a mim e ao alferes Fernando Dias, para uma reunião de emergência.
Mandou-nos preparar os nossos homens para uma operação importante que seria lançada dentro de poucas horas.
Havia informações seguras de que uma alta figura militar da Frelimo, o comandante Sebastião Mabote, iria passar no dia seguinte pela ‘Base Ponde’ – onde estaria um número apreciável de guerrilheiros e armas.
Face à importância e à segurança das informações recolhidas, o brigadeiro Armindo Videira, comandante da Zona Operacional de Tete, solicita um pelotão de 'páras' para executar a missão: capturar aquele importante elemento inimigo, destruir a base e lançar a insegurança numa zona nevrálgica de passagem dos guerrilheiros.
Assim, eu e o meu amigo alferes Fernando Dias, recebemos de imediato instruções precisas sobre a missão: lançar um assalto sobre a Base Ponde – a ‘Operação Crasto 3’ e capturar Sebastião Mabote.

No dia 9 de Maio de 1973, ao princípio da tarde, no Aeródromo Base n.º 7, em Tete, os helicópteros começaram a aquecer os rotores para levarem duas dezenas de pára-quedistas e uma guia negra. Estava em marcha a ‘Operação Crasto 3’ – com a duração prevista de oito dias.
A viagem a bordo dos hélis foi alucinante – sempre rentinho à copa das árvores.
Durou 2 horas e 15 minutos, até algures no interior profundo do distrito de Tete, a uma distância de cerca de 30 km do objetivo, a Base Ponde.

Saltámos dos helicópteros e ficámos logo ali emboscados, junto a um trilho, para impedir que alguém passasse no outro sentido e fosse dar o alarme aos guerrilheiros.
Ao fim de cerca de 15 minutos começam a chegar várias pessoas. À frente vinha um jovem, que aparentava 18 ou 19 anos, seguido por dois homens e várias mulheres e crianças.
Não deixámos passar ninguém: foram feitos prisioneiros, para que a nossa presença não fosse assinalada.
Duas mulheres tinham golpes nos braços.
O enfermeiro Cunha tratou-as.
O alferes Dias, entretanto, já tinha mandado regressar os hélis para levarem os prisioneiros para Tete, onde seriam interrogados.

Anoitecia rapidamente.
Iniciámos a marcha por um vale apertado e profundo, conduzidos pela nossa guia.
Só havia um trilho, pelo que era pouco provável que alguém da população nos tivesse ultrapassado para dar o alarme.
Caminhámos durante toda noite em direção ao objetivo.
Fomos sempre seguidos de muito perto por alguns vultos com pequenas luzes na mão, mas que não se atreviam a ultrapassar a nossa coluna.
Prevíamos atingir o objetivo por volta das 3 horas da manhã.
Muito perto dessa hora, já estávamos a tomar posições com a base inimiga à vista.
Ainda estava tudo calmo nas palhotas.
O negrume da noite começava a desaparecer.
Quando a claridade veio, vimos as sentinelas e os guerrilheiros a levantarem-se e a deslocarem-se de umas palhotas para as outras.
Eram muitos.
Mas, pareceu-nos, a mim e ao Dias, que as movimentações e as sentinelas que observávamos não indiciavam que estivesse ali 'gente importante' – de outro modo, o reforço de vigilância seria maior.
Perto das 4 horas decidimos lançar o ataque.
Tinha que ser cuidadoso – mas firme e violento, com forte poder de fogo de G3 e de morteiradas. Não sabíamos quantos guerrilheiros havia na base.
Nós éramos apenas 20.
A nosso favor só tínhamos o fator surpresa.

À ordem de fogo, avançámos.
Todos em linha.
As primeiras palhotas estavam a cerca de 100 metros.
Atacámos decididos – mas, a poucos metros do núcleo central da base, caímos dentro de uma trincheira que a circundava.
Valeu-nos que estávamos preparados e treinados para todas as eventualidades.
Grito para os meus homens tentarem sair rapidamente daquele fosso.
Alguns subiram mais rapidamente e mantiveram a iniciativa de fogo – enquanto outros se chegavam de novo à frente.
Olho para o Dias, que ia à minha esquerda e sinto que está tudo sob controlo.
Conseguimos ultrapassar aquele obstáculo inesperado, mas perdemos segundos preciosos.
Os guerrilheiros ganharam alguma segurança na sua fuga, apesar de constantemente flagelados pela nossa morteirada.
O inimigo praticamente não respondeu ao nosso tiroteio.
Sentimos poucos tiros e muito altos.
Eles preferiram fazer uma retirada estratégica e aguardar um momento mais oportuno para nos fazer frente.
Em dez minutos, tínhamos a base ocupada e as palhotas revistadas.
A base era constituída por uma escola, um posto de saúde, locais de reunião e, sobretudo, palhotas de habitação.
A ordem era para não ficar nada de pé.
Incendiámos tudo.

Na refrega, um dos nossos militares é ferido sem gravidade, um guerrilheiro é morto e é capturado um outro.
Apanhámos algum material de guerra, nomeadamente duas metralhadoras, granadas, binóculos, fardas e documentos.
Não encontrámos vestígios da presença de Sebastião Mabote.
Creio, hoje, que ele tinha projetada uma visita à base uns dias mais tarde.
O objetivo de destruir a base estava cumprido, mas a operação ainda não estava terminada.
A tensão era enorme.
Não podíamos estar ali mais tempo à espera que o inimigo se reorganizasse e nos flagelasse com morteirada.
Saímos rapidamente da zona – e montámos uma emboscada nos trilhos de acesso à base.
Sabíamos, por experiência, que alguns guerrilheiros poderiam regressar para verificar os estragos.
Não se aproximaram.
Flagelaram-nos com alguns tiros e morteiradas sem grande importância.
Passámos o resto do dia em constante movimentação para despistar os guerrilheiros a fim de encontrarmos um local seguro para dormir.
Acreditávamos que a noite seria um inferno de fogo-de-artifício.
E foi.
Escurecia quando começaram as primeiras morteiradas.
Quem passou por momentos idênticos sabe o que é ouvir o ‘baque’ da saída da granada do morteiro sem saber onde ela irá cair.
Felizmente, nenhuma caiu perto.
A partir de certa altura, pudemos descansar.

Os dias seguiram-se como havíamos previsto para esta operação, que era montar emboscadas nos trilhos principais de modo a podermos obter mais alguns resultados, capturar inimigos e armas e, porventura, darmos de caras com Sebastião Mabote.

Após uma noite passada com normalidade, aconteceu a tragédia.
Era a manhã de 15 de Maio.
Faltava um dia para terminar a operação.
Estávamos emboscados perto de um trilho e escondidos entre capim mais alto que um homem.
Às tantas, ouvimos o capim a mexer escassos metros mais à frente.
A tensão aumentou.
Podia ser o inimigo que se aproximava.
O furriel T... não conseguiu aguentar a pressão e abriu fogo.
Fez apenas dois tiros.
Ouvimos um urro angustiante que quebrou o silêncio daquela manhã.
Quem quer que fosse, caiu de imediato com um grande gemido saído das entranhas.
Fomos rapidamente ver o que se passara.
Quando julgávamos que íamos encontrar um guerrilheiro estendido no chão, verificámos horrorizados que era um dos nossos – o Louro, o primeiro-cabo António Luís Pires Louro, natural de Monforte da Beira, tinha saído da zona de emboscada, sem avisar os companheiros do lado, para fazer uma necessidade fisiológica.
Estava ali a esvair-se em sangue, curvado, com a cabeça junto aos joelhos, atingido por duas balas que lhe entraram junto ao umbigo.
Ia morrer.
O alferes Dias chamou pelos enfermeiros Cunha e Balau.
O Balau ainda lhe deu uma injeção para manter o ritmo cardíaco, mas já era tarde.
O Furriel T... estava inconsolável.
A tragédia também passava por ele – embora não se sentisse culpado, pois não fora descuido seu, nem falta de atenção, nem quebra de qualquer regra de segurança.
Se a tensão já era muita, imagine-se o estado de angústia que se apoderou daquele grupo de homens, bem preparados para a guerra, mas nunca suficientemente preparados para verem um camarada morto nas circunstâncias terríveis em que esta ocorreu.
Pouco tempo depois, começa o tiroteio dos guerrilheiros.
Apercebem-se do local onde estamos e disparam alguns tiros e morteiradas.
Saímos rapidamente da zona com o corpo do Louro às costas.
Fui para a frente do pelotão para sairmos dali imediatamente.
A determinada altura, olho para trás e vejo o alferes Dias com o corpo do Louro aos ombros.
O Louro era do pelotão do Dias que, devido às suas qualidades de combatente, o promovera a primeiro-cabo, sendo já um dos veteranos do grupo de combate e que dentro de pouco tempo acabaria a comissão de serviço.

Chamámos um helicóptero para a evacuação urgente.
Não havia muito mais a fazer pela vida Louro, mas poderíamos fazer com que o corpo chegasse o mais rapidamente a Tete.
Não foi fácil fazer descer o helicóptero.
Na primeira tentativa de aterragem, ouviram-se tiros e o piloto abortou a manobra e voltou a subir.
Procurámos outro local, mas a vegetação não permitia a descida completa até ao solo.
Finalmente, encontrámos um lugar seguro que permitiu a evacuação do corpo – e, se a memória não me trai, seguiu também o furriel que estava emocionalmente destroçado.
No dia seguinte acabou a operação, com mais um ou outro tiro e morteirada, mas sem outros factos dignos de especial menção.





quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Ataque a lança misseis 122 mm, por Alexandre Nogueira dos Santos

 
 
Duilio Caleca, nunca consegui entrar num abrigo Pá.
 
Estive de cama 3 semanas com os rins avariados e foi o enfermeiro Agapito quem me safou com injecções directas nos rins a frio e desmaiado.
 
Quando me levantei para ir comer à messe, pesava 42 quilos.
 
Veio um ataque e pedi ao Sampaio de Op. Especiais que estava num abrigo - Pá - leva-me à minha zona de defesa e ele agarrou-me pelo blusão do camuflado e depois de umas centenas de metros sentou-me no banco do meu obús e depois foi só fazer o que tinha de ser feito.
 
Nunca senti amargura mas no final de cada ataque, o pessoal trazia 3 ou 4 grades de Laurentina fresquinha, eu bebia de seguida umas 5 ou 6 e ficava em paz comigo mesmo!
 
Esse ataque em 2 de Abril de 1974 começou às 8:05 da manhã e só acabou às 12:40.
 
Usei granadas de fumo para proteger o nosso pelotão das águas, anulei duas rampas e fartei-me de usar espoletas de tempo para as outras mas não conseguia nada até que pela rádio ouvi: Daqui Diogo Neto - meu caro Santos, dê-me referências pois vou de Mueda com uma esquadrilha de Fiat.
 
Depois de seguir as minhas indicações com humildade superior, o Gen. Diogo Neto foi com os restantes, fantástico!
 

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Mina anticarro, por António Conde

 
 
Quanto á Mina anticarro, recordo-me de ter detetado uma muito próximo do Trilho do Chindorilho.
Um colega, (o Seop), limpou-lhe a terra de cima, deitou-lhe a mão á asa para a puxar.
Eu apercebi-me de qualquer coisa do lado, entre a Mina e a terra e mandei para que parasse imediatamente.
 
 
 
Arranjamos uma pequena gancha, porque também já tínhamos ouvido falar nisso, prendemos uma corda á asa da mina, depois a corda em cima da gancha, próximo do buraco, puxámos e a gancha faz com que a Mina saia do buraco.
 
Mas o que aconteceu, foi que a Mina saltou do buraco e daí a três ou quatro segundos explodiu no buraco uma granada de mão.
 
 
 
Portanto os Turras faziam uma pequena cavidade entre a Mina e a terra, colocavam nessa cavidade uma granada de mão, com a cavilha voltada para o lado da Mina, onde ficava ali entalada entre a Mina e a terra.
 
Tiravam a cavilha, cobriam com terra, sempre com muito cuidado desfaçavam o local o melhor possível e ali estava a ratoeira pronta.
 
Se não fosse detetada e calcada com uma viatura, explodia a Mina e a granada.
 
Se fosse detetada, colocava-se um petardo de 250g. em cima da Mina e lá explodia tudo.
 
Alguns curiosos, gostavam de as levantar, se não estivessem armadilhadas, tudo bem; mas se não se apercebiam da armadilha, ao mexer com a Mina para a levantar, dali a alguns segundos rebentava a granada de mão e então explodia tudo junto e desaparecia com quem estava á volta.
 
Foi assim que aconteceu a um militar, quando em fevereiro de /72, a minha Companhia seguia pela primeira vez de Mueda para o Sagal, onde acampámos.
 
Os poucos e pequenos bocados que se encontraram, couberam numa caixinha de ração de combate.!
 
 


quarta-feira, 12 de outubro de 2016

A FILHA DO CORONEL, por António Rosa

Antonio Rosa
 
Bom dia a todos
Nos nossos tempos de guerra, aconteceram também momentos e situaçôes divertidos e felizes.
Este poema que vou partilhar retrata momentos que eu recordo com saudade.

A FILHA DO CORONEL
...
Nesse tempo, era a paixão,
Difícil de consumar;
As donzelas eram castas,
Ingénuas e virtuosas,
Algumas até pensavam,
Que um simples beijo na boca,
Poderia engravidar
Quando eu era militar,
Fui apanhado de amores,
Pela filha de um Coronel;
Ela linda, glamorosa,
Muito à frente do seu tempo,
Nem tinha por convicção,
Amar, rimar com casar.
Uma tarde na esplanada,
Levados pela emoção,
Trocámos um longo beijo,
Suscitando às "generalas",
Um olhar reprovador,
E um clamôr de indignação.
O coronel confrontou-me,
Assumindo tal frieza,
Que o meu sangue fez gelar:
"Alferes, tu vai com calma,
Não voltes a abusar,
A menos que eu autorize,
E tu tenciones casar,
Nunca mais beijes na boca,
A filha de um militar.

Nota explicativa:
"generalas" era o nome que nós dávamos às mulheres dos oficiais superiores.

António Rosa.