Hoje mais uma pequena história sobre os ex-combatentes.
Lá fomos para as unidades militares, com três meses de recruta e outros três de especialidade.
Tínhamos vinte "aninhos" e todas as esperanças dessa idade.
Arrancaram-nos ao seio da nossa família e amigos.
Ficámos com a vida interrompida, quando fomos chamados para o serviço militar, pois disseram-nos que a Pátria estava a ser atacada....
Lá fomos para as unidades militares, com três meses de recruta e outros três de especialidade.
Grande parte foi para a especialidade de atirador, pois era disso que necessitavam para a defesa do Ultramar.
Na instrução física estávamos muito bem preparados, no entanto o grande problema foi na preparação prática e na especialidade de contraguerrilha, essa sim falhou.
Chegados a África tudo era novo para nós, o clima, o terreno, as gentes e aquele tipo de guerra que iríamos enfrentar.
O Português sempre se caracterizou por se adaptar muito bem ás circunstâncias adversas e essas encontramos muitas em Moçambique.
O Português sempre se caracterizou por se adaptar muito bem ás circunstâncias adversas e essas encontramos muitas em Moçambique.
A primeira vez debaixo de fogo foi terrível, os ramos das árvores cortados pelas balas a cair por cima de nós e o coração aceleradíssimo como a querer sair do peito.
Nestas situações presenciei muita valentia e entreajuda.
Perante um camarada morto os nossos semblantes ficavam carregados, mas a união ainda era mais forte, solidaria.
Havia adversidades naturais, tais como o calor, as mordidelas das formigas, o terrível feijão macaco, a sede e o acidentado do terreno.
Tudo foi vencido com estoicidade e querer inquebrantável.
As tropas normais (retirando os comandos, páras e fusos) eram, na generalidade, pouco disciplinadas e os graduados tinham que andar sempre em cima, para chamar à atenção para este ou aquele facto, no entanto eram de um estoicismo, abnegação e capacidade de sofrimento a todos os títulos notável.
Muitas vezes observei entreajuda entre camaradas, incentivos a outros que por qualquer razão ou por cansaço, bem precisavam dela.
O nosso equipamento individual era bastante pobre, não tínhamos onde colocar as granadas, elas eram colocadas no cinturão onde frequentemente caiam.
O bornal era colocado à volta do pescoço, tal como os cantis de água, o que em caminhada se tornava bastante incomodativo.
Passados todos estes anos, perante tamanha adversidade, é minha convicção que fomos dos melhores soldados do mundo.
Linda-a-Velha, Fevereiro de 2013
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