quinta-feira, 21 de maio de 2020

Avô, Avô, olha o que eu encontrei..., por António Júlio Sarmento

Antonio Julio Sarmento para PICADAS DO CABO DELGADO
2020-02-29
Tempos revoltos, tempos difíceis!
Pegou na foto, já amarelecida pelo tempo e foi ter com o Avô.
Avô, Avô, olha o que eu encontrei.

Sentado na poltrona, lá estava o Avô dormitando e talvez sonhando com uma Vida, cheia de memórias e vivências já passadas.

Avô olha o que eu encontrei, quando é que foi tirada esta foto? 
Quem são estes militares? 
Tu também estás aí?
Sim estou, Pedro, na tua escola os professores nunca falaram da guerra colonial?
Não Avô nunca ouvimos, falar nisso.

Infelizmente, hoje isso é uma realidade, mas o Avô vai-te contar, o que foi esse tempo de guerra e sofrimento, com morte, feridos e sequelas , para muitos jovens, naquela maldita guerra.

Naquele tempo o serviço militar era obrigatório, não é como hoje, que só vai para o serviço militar, quem quer naquele tempo ou se ia ou fugia-se. 

Naquele tempo haviam as chamadas províncias ultramarinas. 
As gentes dessas terras, chegaram à conclusão que, já era tempo de seguirem em frente e tomarem as rédeas e governo das mesmas. 
Tentaram dialogar e acertar a melhor forma de o fazer.
Mas como sabes, vivíamos nesse tempo numa ditadura.

Esses governantes nunca chegaram a acordo rejeitando, qualquer solução pacífica.
Eles revoltaram-se pegaram em armas, para conseguirem a sua independência.
Então durante quatorze anos eu e muitos jovens daquele tempo, fomos mandados para África, defender esses territórios.

Aí lutámos com bravura aí morremos ou ficámos feridos, com mazelas para toda a Vida. 
Essa fotografia, que tens na mão foi tirada numa altura, em que tivemos uma emboscada.
Estávamos a pôr numa maca improvisada um Camarada, que tinha sido ferido com gravidade e estávamos à espera do helicóptero, para se fazer a evacuação para o hospital militar mais próximo.

Como vês a nossa juventude não foi uma Vida fácil.

É verdade Avô, por aquilo, que me contas, vocês foram uns bravos soldados, tenho pena, que os nossos governantes tenham apagado e esquecido esse período triste e dramático da nossa História.

Resta-nos, Avô as tuas memórias e testemunhos de muitos outros militares, felizmente ainda vivos, para nos contarem e nos recordarem esses tempos. 

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