Coluna Saurio MUEDA-OMAR-M. ROVUMA
MEMÓRIAS DA GUERRA COLONIAL-
Por: M Neves Silva- Furriel Miliciano de Armas Pesadas
Nove de Maio de 1973, madrugada triste, fria e húmida em Mueda a Capital da guerra no Planalto dos Macondes.
Alinhavam-se as berliets militares e os camiões civis. Iniciava-se a coluna logística Sáurio 01,viagem de reabastecimento logístico a Omar e Mocímboa do Rovuma.
A tropa era composta por três grupos de combate da Companhia de Caçadores 4140 do Furriel Lopes, do Alferes Joaquim e do Alferes Feire; dois grupos da companhia de Artilharia 3503 comandados pelos Furriel José Caseiro e Alferes Coelho; três secções de morteiros médios do Alferes Casimiro; uma secção de sapadores sob a responsabilidade do Furriel Jacinto; um pelotão de Cavalaria do Alferes Menéres e ainda um Grupo Especial de tropas africanas, o GE 208,do Alferes Antonio Manuel Pereira Giestas.e dos Furriéis Julio Leitao e André Jorge Silveira
Todos estes militares distribuíam-se pelas caixas das viaturas e pelos flancos da picada, pela testa da coluna. Eram diversas as missões de todos estes grupos: proteger o comboio contra ataques; proteger os flancos, esquerdo e direito; emboscar os trilhos de acesso à picada; abrir o percurso.
Era um bulício de homens, de espingardas G3, cartucheiras, granadas de morteiro, granadas de mão, lança granadas, rações de combate…..
E eram as gargantas secas de amargura, de sofrimento, de ansiedade, de medo.
O comboio verde estendia-se enorme, ocupando toda a avenida da cidadela militar.
À ordem do Capitão Miliciano Vasco Gonçalves toda esta mole se põe em marcha com a ronca dos motores, as baforadas diesel dos escapes e o serpentear lento com as vénias dos carros à esquerda e à direita ao sabor da irreverência dos buracos e das depressões da picada.
Ao meu pelotão comandado pelo Furriel Lopes, homem minhoto das terras de Celorico, cabia a tarefa e responsabilidade de encabeçar a ”“excursão”, de rasgar o itinerário, de detectar e neutralizar minas, armadilhas e outras quejandas surpresas dos “turras”, até ao Posto de Águas 34, onde este Sáurio se bifurcaria em dois, um para Omar e outro para Mocímboa do Rovuma.
Estes postos de água, agora desactivados, antes da guerra, ao tempo da majestática Sociedade Agrícola Algodoeira (SAGAL) forneciam uma determinada quantidade de água a troco da inserção duma ficha que valia 50 centavos de escudo (uma quinhenta). Estão distribuídos um pouco por todo o lado ao longo destes caminhos. Servem agora como pontos de referência das estradas (picadas).
Foi este sistema de distribuição de água, e foi a Companhia do Algodão (SAGAL) grandes fontes de descontentamento e revolta para os trabalhadores nativos macondes, que se viam coagidos pela empresa a plantar algodão e a entregá-lo a esta por irrisórios preços. Depois para matarem a sede teriam que devolver o parco soldo naquelas torneiras. Os portugueses não foram uns colonizadores exemplares……
A vegetação densa, estava eivada da comichão do” feijão macaco”, essa vagem parecida com o feijão-verde que uma vez tocada, solta aquele castanho pó que desencadeava coceira e mais coceira e ainda mais coceira qual infernal sarna que punha os nossos corpos em brasa.
Tudo nos atazanava o psiquico e o físico. Para além da vagem da comichão, eram as talacas, essas enormes formigas que se deslocavam em fila indiana, qual batalhão bem formado em ordem unida e que ao morderem preferiam deixar o ferrão, a abandonar as nossas pernas.
Mas ainda pior, era o perigo sempre presente, o risco de se furado por “frela” bala ou de ficar estropiado com o estoirar duma mina debaixo dos nossos pés.
E assim, ordem dada, avançámos picando a picada, num pleonasmo de picas, aquelas varas de bambu com um prego na ponta com que os soldados do grupo da picagem, agora com o estatuto de picadores, iam batendo repetidamente o chão à medida que avançavam tentando assim “apalpar” as minas a uma distância segura.
Era uma “tecnologia de ponta”, esta ponta de aço na ponta da cana de bambu. Na outra ponta da pica, estava sempre a vida do batedor.
Esta técnica de sentir as minas na ponta, era complementada com a tecnologia ainda de mais ponta dos detectores electrónicos de metais, que neste particular levavam o nome de pesquisadores de minas. Mais eficazes e mais seguros, porque evitavam o toque com o solo, estes aparelhos eram mais raros porque mais caros que o bambu e porque eram mais propensos a avarias e também porque a vida dum soldado pouco valia.
Fazia-se uma guerra barata em material, fazia-se uma guerra cara em vidas humanas.
Neste primeiro dia de sofrimento e antes ainda do meio-dia já tínhamos topado com uma mina anticarro, essas “marmitas” de TNT que fazem ir pelos ares viaturas e homens. Detectámos ainda um fornilho, série de minas e granadas e outras merdas explosivas ligadas entre si por cordão detonante de tal modo que ao ser accionado um elemento desta cadeia, todos os outros deflagram em sequência, rentabilizando assim os estragos.
O Grupo de picagem avançava como que perseguindo caracóis, seguido pela primeira viatura, o rebenta-minas, num movimento, chiado, ronceiro e deselegante.
Era integrado por picadores protegidos com as G3 dos atiradores, armas sempre atentas, sempre nervosas, apontando para qualquer ruído, qualquer sinal de perigo, qualquer surpresa vinda da densa mata. Atiradores e picadores revezavam-se, para aliviar cansaços, trocar tarefas, e alternar os estatutos entre picador e atirador.
Era um trabalho lento, monótono, cansativo, enervante. Atrás de nós toda aquela massa de carros, de armas ligeiras e pesadas, chiava, roncava, movendo-se pesadamente.
O Heitor, à minha frente, estacou a pica no chão, embrenhou-se no mato, abriu a braguilha e pôs-se a mijar.
-Não repitas isso muitas vezes. Não deves sair do trilho de picagem. Na próxima podem ficar aí os teus “pedais ”-gritou, chateado o Furriel Duarte, no seu sotaque madeirense
-Meu Furriel, agora tive que ir agarrar noutra pica. Na minha pica!-gracejou o Heitor enquanto compunha a braguilha, “acachando” a picha.
O Grupo tinha parado por instantes o batuque da picagem. Atrás de nós a primeira viatura, a rebenta-minas distanciava cerca de cinquenta metros. O Heitor regressa para a outra pica. Íamos recomeçar quando uma viatura, a terceira voou estrondosamente ao calcar uma mina.
-Caralho -berra o Furriel Lopes defraudado-deixaram passar aquela “marmita”
-Atão e só “arrebentou” na terceira viatura? -indagou o Moreira, apontando o dedo na direcção da tragédia.
-É uma daquelas de triquetes e devia estar estava regulada para “arrebentar” só no terceiro-sentenciou o Cabrita, enquanto ferrava com violência a pica no chão.
-Foda-se! Se nós não a detectámos é porque é de espoleta química e essas não acusam no detector- afirmou convicto o Cabo Adriano Pereira ,limpando com o quico o suor da testa.
Tínhamos, espalhados pelo chão ao redor da estropiada berliet, os gritos de dor de nove camaradas gravemente feridos
Os gritos vinham do chão. Os gritos vinham do ar. Os gritos estavam em mim. Todo eu era já um grito. Eu já não suportava o grito.
Veio-me à memória a letra da canção:
“ Lá longe, onde o sol castiga mais
Não há gemidos nem ais,
Há coragem e valor
Mas quando alguém do nosso grupo cai
Ainda pior, ainda sofremos mais
Faz-nos sentir, faz-nos pensar
Talvez da próxima vez
Seja eu quem vai tombar….”
Mais azáfama, mais ordens e contraordens, muita tristeza, muita consternação, muitos nervos na flor da pele.
Era o pessoal das transmissões gritando, alfas, bravos, charlis e rómeos a pedir helicópteros para a evacuação.
Não se pode perder tempo. Não há tempo a perder. Há que cuidar deles, estabilizá-los com o saber e sangue frio do Furriel Enfermeiro Elias.
Há que capinar, fossar, romper desenrascar um heliporto, antes que anoiteça, para o poiso do helicóptero que vem buscar estes desgraçados, para outros cuidados médicos em Mueda.
Deixámos as picas e corremos às ordens do Furriel Lopes a proteger de armas em riste, o pessoal que abria a clareira para o poiso da aeronave. Os guerrilheiros estão seguramente por perto e não queremos mais surpresas.
Eu aperreava no meu corpo a minha G3 mulher, a minha amiga G3.
A tarde deste dia entardeceu triste, amarga, carregada de nuvens de incerteza e a noite apanhou-nos ali mesmo, escura, aziaga tal como a nossa dor.
Sentia-me estranhamente estranho, não me sentia eu, não era eu quem estava ali naquele filme de terror. Sentia-me uma rocha, quando vê o rastilho arder em direcção à dinamite no seu interior.
Esgravatei no saco bornal a lata de “Fray Bentos”, carne de conserva Sul-africana. Engulo mais uma laurentina. Fumo mais um cigarro. Tento dormir, tento esquecer…
Estamos cansados, não dormimos, não sonhamos. Amedronta-nos saber que os “Frelos” sabem que estamos ali, vulneráveis, á mercê da sua morteirada.- Porra! Em que buraco me fui meter.
Sentia na boca o sabor amargo da cerveja e sentia na alma a acidez da minha vida.
Vêm-me à memória as imagens, saudosas recordações daqueles tempos despreocupados de Lisboa no Jardim da Estrela, a mordiscar as gajas que passavam. Dos serões de estudo de Físicas e Matemáticas no Café Portugália. Das sessões de cinema no José Lúcio da Silva em Leiria e que sempre tinham ponto final, num copo de verde vinho “Três Marias”, já com horas sonolentas e espreguiçadas, no Café Ponto Final.
Amanheceram as neblinas da manhã. As folhas das árvores pingavam lágrimas. As silhuetas da vegetação e dos soldados eram esbatidas desfocadas, mal definidas, tal como os meus pensamentos, confusos, esquizofrénicos. Havia um alvoroço de despertar, um vozeirar ao logo de mais de quinhentos metros por onde se estendia a coluna.
São cinco e meia da manhã. Esta bicha está a ponto de ser por de novo em marcha. Calço as botas que serviram de almofada durante a noite. Trinco o resto de pão que sobrou de ontem com a marmelada da ração e bebo o chocolate e estremeço. Estremeço com a sequência de explosões: PUM!….PUM!…PUM!...PUM! E logo uma voz de comando: - Enfermeiro à frente! Passa palavra! Temos dois feridos!
E vejo o Luís Elias a correr com os primeiros socorros nas mãos.
Ao tentarem encher o cantil na água do auto tanque, os soldados António Trinta e Carlos António, da minha companhia tinham tropeçado numa armadilha que lhes arrancou os pés e parte das pernas.
Esta armadilha esperou cinicamente uma noite debaixo do tanque da água para reclamar as suas vítimas de manhã.
Mais sangue mais estropiados e ainda estamos no inicio. Pisar ou não pisar a mina é uma questão de sorte…morrer ou não morrer é uma questão de morte.
Outro heliporto, mais sangue frio do enfermeiro, verdadeiro herói destas tragédias. O Elias esconde as emoções, não pode ficar escravo de sentimentos. Há vidas em perigo. Tem de agir!
Mais carne despedaçada e despachada para a Enfermaria de Mueda.
Os amigos que com eles partilharam o bocado de chão, debaixo da Beliet durante a noite, choram:
- Ninguém imagina o que estamos aqui a sofrer! Aqueles filhos da puta do “ar condicionado” é que deviam estar aqui. Já se foderam onze gajos e isto não vai ficar por aqui. Logo seremos nós.
Mais além o alguém da 3503 berrava:
- Foda-se esta merda, vamos ter mais um dia de festa do caralho, mandam-nos para aqui morrer e ver morrer. Um gajo anda aqui até levar um tiro na mona ou pisar uma mina, depois acaba-se tudo, acabam-se os sonhos, acaba-se a vida, é como se um gajo nunca tivesse existido.
Pois-disse o Elias, arrumando os primeiros socorros- ainda nem temos um dia nesta porra e já é o que é, onze desgraçados e dois deles sem pernas. Que mais merda estará para vir hoje? Isto está tudo semeado de trotil! Não sabemos onde deveremos por os pés.
Lembrei-me da frase de negro humor que li ontem de manhã no cartaz pendurado na árvore, lá atrás, na saída de Mueda:
Reduz o perigo das minas em 50%., Anda ao pé coxinho!
O helicóptero com os feridos a bordo, roncou mais alto, levantou, roçou a copa das árvores, ganhou altura, rodou no ar e tomou a direcção de Mueda.
Verdadeiros heróis, estes pilotos da Força Aérea. Arrepia-me ver o modo e a destreza como encaixam aquelas máquinas em tão exíguos espaços. A eles e à sua coragem se devem muitas vidas resgatadas.
Estávamos a um quilómetro do Posto de Águas 34.Tanto tempo e tanto sacrifício despendido para tão pouco caminho percorrido.
Durante este quilómetro foram “desembrulhadas” do chão mais sete armadilhas e mais duas viaturas foram dinamitadas. Há sempre minas que nos escapam. A pica não as sente, o detector não as ouve, o picador não as vê.
Para algum alívio das nossas consciências de picadores, não houve homens dinamitados.
Posto de Águas 34, dez e meia da manhã. O comboio militar dividiu-se em dois: uma parte seguiu para Omar, a outra para Mocímboa do Rovuma. Estávamos no segundo dia dum total que viriam a ser de dez dias que ainda iria durar esta operação Sáurio 01.
Eu segui para Mocímboa com o meu grupo, um pelotão de cerca de trinta homens, com três Furriéis: Eu, o Duarte e o Lopes. Era nossa missão agora proteger a Artilharia interveniente neste percurso.
Os Frelos deixaram-nos. Outro tanto não se passou com a secção que se dirigiu a Omar, que sofreram várias emboscadas, abonos de morteirada e viaturas dinamitadas. No cômputo geral, esta operação iria custar três mortos e dezoito feridos, quando dez dias depois tínhamos chegado a Mueda
Mocímboa do Rovuma situa-se num planalto com abrangentes vistas sobre o largo rio que se espraia lá em baixo e que lhe dá o nome. A enigmática Tanzânia avista-se mais além na outra margem. Não fosse a guerra e estas paragens seriam um pedaço de paraíso.
As nossas viaturas, descarregaram. Entre outras muitas outras “viandas”, traziam cerveja, o que alegrou sobremaneira as tropas aqui aquarteladas pois o stock das laurentinas, mack-mahons e manicas já estava em ruptura.
Depois de tantos sofrermos para aqui chegar foi bom sermos recebidos com uma refeição quente.
Foi um almoço de participada tertúlia. Foi o contar da epopeia da viagem, foi um continuar a sofrer pela viagem de retorno. Iríamos decalcar o mesmo percurso mas agora às avessas.
Eu estava avesso de apreensão e medo. E comia a saborosa cabidela e bebia as laurentinas e fumava nervosamente os primeiros cigarros do maço recém-adquirido.
Seria no dia seguinte o inferno da torna viagem.
Um Furriel deste destacamento, falou-me da última vez que aqui foram “abonados” de morteirada pelos” turras” e falou-me das operações de patrulhamento das imediações e falou-me de como uma gazela tinha sido apanhada por uma mina do campo minado, protecção que os circundava, e de como esse bicho virou jantar na messe de sargentos e falou-me de tantas coisas e de tantas memórias…
Eu vinha sujo, completamente nauseabundo de suores acumulados e fermentados com o calor lá da picada. Sentia-me como um rato de esgoto.
- Já viste Furriel, eu a entrar assim malcheiroso na pastelaria Suíça em Lisboa? Era eu a entrar e a pastelaria a evacuar.
Deixando-se rir da minha piada, compreensivo e solícito o Furriel apontou-me o duche enquanto me estendia uma laurentina. Era um balde de zinco pendurado numa trave e perfurado no fundo para ”chuveirar” a água.
E soube-me bem aquele banho “maconde” e soube-me mal ter de vestir a mesma roupa transpirada e sobretudo ainda com alguns pólenes do legume da “coçagem”.
Eu estava estoirado, cansado, com a cabeça desorganizada pelos acontecimentos recentes. A tarde acelerava a queda. As águas do Rovuma ao fundo espelhavam ainda a já pouca luz vinda do seu lado nascente. A noite anoitecia calma e alheada da guerra.
Fez questão o Furriel que eu dormisse na sua “Flat”. Era um quarto bem arrumado, simples e acolhedor.
Junto à cama, numa artesanal mesa de bambu, espreitava um retrato emoldurado de uma linda rapariga que me fez estremecer de surpresa.
Eu tinha visto aquela moça dois anos antes na Metrópole. Estava seguro disso, e estava incrédulo disso. A frase saiu-me simples e espontânea:
-Olha! A Deolinda! Como veio parar aqui a Deolinda?
-Conheces a Deolinda?- Perguntou o Furriel, intrigado, segurando a moldura, como quem protege um troféu.
-Conheço pois.
-Como é que a conheces?- Volveu o Furriel, mirando a menina.
A Deolinda tinha sido minha ajudante no laboratório de análises químicas da SIC. Ela frequentava o Liceu Nacional de Santarém e morava em Azinhaga do Ribatejo, onde estava sediada aquela empresa. Eu estudava Engenharia em Lisboa. Conhecemos-nos no trabalho em conjunto naquelas férias de Verão de 1970,naquela fábrica, perto de Santarém. Quando o trabalho sazonal acabou eu voltei para Lisboa e um ano depois para o Serviço Militar e deixámos de nos ver.
-Conheci-a em Azinhaga do Ribatejo em 1970 quando com ela trabalhei no laboratório da Sociedade Industrial de Concentrados (SIC) durante a campanha do tomate -Respondi ao Furriel, enquanto nervosamente acendia mais um cigarro.
-Ah! Sim ela trabalhava lá durante as férias de Verão. E eu também sou de lá, de Azinhaga-explicou o Furriel, pousando delicadamente o quadro sobre a mesa, como quem baixa a guarda de protecção a um tesouro.
Lembrei-me daquela aldeia, a mais portuguesa do Ribatejo, do sujo rio Almonda, do baile de sábado na Associação, daquele passeio na tarde de domingo nas Portas do Sol.
A Deolinda era agora, namorada do Furriel. Senti-me por instantes como um refractário a um compromisso descomprometido.
A conversa sobre a Deolinda por aqui ficou. Confesso que ao ver de novo a linda menina, fiquei irresoluto, enciumei do Furriel.
A picada do dia seguinte perdeu o valor trágico. Afinal naqueles verdes anos, nós ainda somos imortais, eternos, apesar de podermos morrer amanhã.
Saímos da “flat” e mergulhámos nas cervejas.
Adormeci com as dormências das laurentinas, no colchão de espuma colocado no chão ao lado da cama do Furriel.
Desculpa Furriel da Azinhaga. Nunca te agradeci o modo hospitaleiro como por ti fui recebido. Esqueci-me do teu nome. Passaram quarenta anos e agora, afinal, nós já somos mortais, poderemos morrer amanhã. Teremos de morrer amanhã.
.
Manuel Neves Silva-Furriel Miliciano de Armas Pesadas
Sem comentários:
Enviar um comentário