Já ia a subir o Índico, a bordo do Niassa, quando me deram uma amiga.
Foi uma espécie de casamento temporário, ou contrato nupcial, como agora se usa.
Ficamos ligados pela meu número mecanográfico e pelo número de série da minha amiga.
Prometi tratar muito bem dela para que respondesse sempre bem, quando necessitasse.
Em Mueda, quando estava no quartel, sempre esteve por baixo da cama ou à cabeceira, sempre muito perto da sua " ração ".
No mato, e em progressão lenta, muitas vezes a levei ao colo, nos braços, e algumas vezes, quando muito cansado, levei-a de qualquer maneira, que um homem, mesmo muito jovem, não é de ferro.
Nas noites chuvosas e frias puxava-a para junto de mim, mas continuava fria. Sempre a tratei bem e até tinha um camarada que lhe dava " banho " de óleo todas as semanas, a quem eu pagava uma basuca, coisa barata.
Algumas vezes, já cansado, puxei-a pela bandoleira, mas sempre a considerei uma boa amiga.
Dei-lhe ordens com o meu polegar direito, a que sempre obedeceu e nas emboscadas, com o meu coração a saltar de medo, bem a senti quentinha e a " falar " rapidamente.
Quando sai de Mueda, viajou comigo no barco para a Beira e desta localidade, de comboio para Moatize, nunca me separando da minha amiga, inclusivé dormiu comigo na carruagem cama, pois nessa época já se constavam ataques à via de caminhos de ferro.
Chegados a Vila Coutinho, Tete, dei-lhe imenso descanso, muito bem merecido e só peguei nela para longas e belas nomadizações pela área que nos estava destinada, quando fomos destacados para Tsangano, na fronteira com o Malawi e quando nos enviaram em intervenção para a zona operacional do Béne.
Já não me lembro exactamente da localidade onde me " divorciei " dela, não considero traição pois foi um " casamento " forçado.
José Fernando Pascoal Monteiro
Linda-a-Velha, Julho de 2020
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