Mais um pequeno texto sobre a nossa vivência em Cabo Delgado.
Dos vários sons que ainda hoje, passados muitos anos, perduram na minha memória, este provocado pela "costureirinha" é dos que ainda estão gravados.
Sempre que me lembro de ti, só vejo vegetação densa e muito verde, picadas de terra batida e areia, e muitos camaradas deitados.
Alguns não chegaram a levantar-se por tua culpa.
Aquele som metálico e o teu "falar", bastante rápido e... cadenciado, fizeram sempre parte de mim, enquanto estive em Mueda.
Raramente foste referenciada pelo teu nome técnico, mas sim pela tua alcunha, que era conhecida de todos nós.
Muitas das vezes era por ti que a emboscada se iniciava, e nesse breves momentos todos nós íamos rapidamente para o chão, não por respeito por ti, mas por medo das consequências.
Apenas uma única vez peguei em ti, numa operação no Vale de Miteda, em conjunto com um pelotão de outra companhia do meu batalhão.
O guerrilheiro da Frelimo vinha a fazer proteção a alguns "machambeiros" e encontrou-se connosco num trilho, já bastante perto de uma base.
Tu foste para o nosso aquartelamento, o guerrilheiro lá ficou.
Linda-a-Velha, Novembro de 2013
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