A Boina Castanha
A quem me conhece, predominantemente os da Sociedade Castrense (Militar), gostava de colocar os pontos nos ís.
Nas Caldas da Rainha, Curso de Sargentos Milicianos (CSM), quando terminei o mesmo com elevada média, fui destacado para Tavira.
Estava formado para fim de semana, e na segunda feira estaria em Tavira.
Quis a sorte ou o azar, que ainda em formatura, antes de entrar no autocarro para o Porto, viesse um Capitão Comando/Ranger, e perante o pelotão escolhesse uns militares (acaso?), para prestar umas provas de última hora.
Soube depois que era para escolher “voluntários” para Operações Especiais, em Penude – Lamego.
Fui “voluntário”.
Na segunda feira seguinte não fui para Tavira, fui para o CIOE – Penude (Lamego).
Chegado aí, e nos 15 dias subsequentes, só queria fugir daquele lugar de malucos e loucos. Passados esses 15 dias, se me retirassem de lá, só quereria morrer.
Foi isso que me incutiram e conseguiram.
11 semanas de verdadeira loucura, terror, medo, exigência e só para super-homens…e eu terminei com 15,28 valores.
Inolvidável.
Estremoz foi o destino, como Cabo Miliciano.
E passados 4 meses para a Guine´.
Da Guiné escuso-me a falar mais, todos sabem e conhecem o que foi ( um Inferno, na Terra).
Porquê esta prosa?
Para dizer apenas que, enquanto “sargento” de uma Tropa Especial, acabei por saber o que era uma guerra de guerrilha, por isso apraz-me falar do que eram as Tropas “normais”, pois é, eu sei o que eram, eu convivi com eles, e sei o que passaram todos os Batalhões, Companhias e Pelotões de “Tropa Macaca”, eu sei, e posso afirmar, segundo testemunhei, que todos, mas todos foram muito Especiais, quando haviam grandes Operações, com Fuzileiros, Para-quedistas e ou Comandos, já antes os “Outros” dormiram no mato, emboscados, com pouca e/ou fraca preparação, para que o “tapete vermelho” estendido aos Militares com preparação superior tivessem tudo preparado.
Sei que a “Tropa Macaca” onde eu estava inserido, tinha uma fraca preparação, mas estava pejada e repleta de verdadeiros Heróis, quais soldados “Milhões” da I Guerra Mundial.
Eles, preparavam, na maior parte das vezes, o terreno para as grandes Operações dos Comandos, dos Para-quedistas, dos Fuzileiros e do Marcelino da Mata (no caso da Guiné).
Sim, estes heróis “desconhecidos”, estavam sempre na vanguarda, na linha da frente, e muitas vezes com estropiados, mortos e feridos…por dever e por serem carne para canhão.
No meu tempo, os militares de Operações Especiais, ao contrário da actualidade, eram apenas oficiais e sargentos, integrados nas outras Tropas, pelo que oficialmente éramos “militares de Infantaria” e como tal usávamos os símbolos de Cavalaria, Infantaria, caçadores, etc, nas boinas que orgulhosamente ostentávamos … Boinas Castanhas!
A todos os Heróis, que não sendo “Tropas Especiais” (não tiveram a mesma preparação), lutaram, enalteceram e honraram Portugal e a sua Bandeira, por isso deram a vida e prepararam o caminho a todos os Militares de Tropas Especiais, e sem estes ilustres esquecidos, a maioria das grandes Operações, não teriam o sucesso que tiveram.
Aos militares, denominados de Tropa Normal, a sociedade Castrense faz uma vénia, bem como os Para-quedistas, Comandos, Rangers e Fuzileiros, a quem eles facilitaram a vida com sacrifício da própria vida.
Por isso nunca se esqueçam de falar…da “Tropa Macaca” (onde servi orgulhosamente).
Obrigado
José Casimiro Carvalho (boina castanha)
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