sábado, 10 de novembro de 2018

A Boina Castanha, por José Casimiro Carvalho


A Boina Castanha 

Texto alt automático indisponível.
A quem me conhece, predominantemente os da Sociedade Castrense (Militar), gostava de colocar os pontos nos ís.

Nas Caldas da Rainha, Curso de Sargentos Milicianos (CSM), quando terminei o mesmo com elevada média, fui destacado para Tavira. 
Estava formado para fim de semana, e na segunda feira estaria em Tavira.

Quis a sorte ou o azar, que ainda em formatura, antes de entrar no autocarro para o Porto, viesse um Capitão Comando/Ranger, e perante o pelotão escolhesse uns militares (acaso?), para prestar umas provas de última hora. 
Soube depois que era para escolher “voluntários” para Operações Especiais, em Penude – Lamego. 
Fui “voluntário”. 

Na segunda feira seguinte não fui para Tavira, fui para o CIOE – Penude (Lamego).
Chegado aí, e nos 15 dias subsequentes, só queria fugir daquele lugar de malucos e loucos. Passados esses 15 dias, se me retirassem de lá, só quereria morrer. 
Foi isso que me incutiram e conseguiram. 
11 semanas de verdadeira loucura, terror, medo, exigência e só para super-homens…e eu terminei com 15,28 valores. 
Inolvidável.

Estremoz foi o destino, como Cabo Miliciano. 
E passados 4 meses para a Guine´. 
Da Guiné escuso-me a falar mais, todos sabem e conhecem o que foi ( um Inferno, na Terra).

Porquê esta prosa? 
Para dizer apenas que, enquanto “sargento” de uma Tropa Especial, acabei por saber o que era uma guerra de guerrilha, por isso apraz-me falar do que eram as Tropas “normais”, pois é, eu sei o que eram, eu convivi com eles, e sei o que passaram todos os Batalhões, Companhias e Pelotões de “Tropa Macaca”, eu sei, e posso afirmar, segundo testemunhei, que todos, mas todos foram muito Especiais, quando haviam grandes Operações, com Fuzileiros, Para-quedistas e ou Comandos, já antes os “Outros” dormiram no mato, emboscados, com pouca e/ou fraca preparação, para que o “tapete vermelho” estendido aos Militares com preparação superior tivessem tudo preparado. 

Sei que a “Tropa Macaca” onde eu estava inserido, tinha uma fraca preparação, mas estava pejada e repleta de verdadeiros Heróis, quais soldados “Milhões” da I Guerra Mundial. 
Eles, preparavam, na maior parte das vezes, o terreno para as grandes Operações dos Comandos, dos Para-quedistas, dos Fuzileiros e do Marcelino da Mata (no caso da Guiné). 

Sim, estes heróis “desconhecidos”, estavam sempre na vanguarda, na linha da frente, e muitas vezes com estropiados, mortos e feridos…por dever e por serem carne para canhão.

No meu tempo, os militares de Operações Especiais, ao contrário da actualidade, eram apenas oficiais e sargentos, integrados nas outras Tropas, pelo que oficialmente éramos “militares de Infantaria” e como tal usávamos os símbolos de Cavalaria, Infantaria, caçadores, etc, nas boinas que orgulhosamente ostentávamos … Boinas Castanhas!

A todos os Heróis, que não sendo “Tropas Especiais” (não tiveram a mesma preparação), lutaram, enalteceram e honraram Portugal e a sua Bandeira, por isso deram a vida e prepararam o caminho a todos os Militares de Tropas Especiais, e sem estes ilustres esquecidos, a maioria das grandes Operações, não teriam o sucesso que tiveram.

Aos militares, denominados de Tropa Normal, a sociedade Castrense faz uma vénia, bem como os Para-quedistas, Comandos, Rangers e Fuzileiros, a quem eles facilitaram a vida com sacrifício da própria vida.

Por isso nunca se esqueçam de falar…da “Tropa Macaca” (onde servi orgulhosamente).
Obrigado

José Casimiro Carvalho (boina castanha)

Sem comentários:

Enviar um comentário