quarta-feira, 1 de junho de 2016

A Guerra das Abelhas, por José Monteiro

Jose Monteiro 
para PICADAS DO CABO DELGADO
Mais uma pequena história vivida em Cabo Delgado, Mueda, no período de Maio/67 a Junho/68.
Guerra das abelhas
 
Vale de Miteda,1968.
 
Mais uma operação se seguiu, na rotina de operacionais em Mueda, desta feita ao nível de dois pelotões, incluindo o meu.
 
Tínhamos como objetivo o ataque a uma sub-base inimiga, cuja prisioneira, que foi connosco, sabia onde estava localizada....
 
Formação na parada do quartel, com noite completamente fechada e escura, azáfama habitual nestas circunstâncias, com abastecimento de rações de combate e material de guerra.
 
Lá fomos em bicha de pirilau, saindo pelo lado direito em direção aos "cães de guerra" e aí descemos para o Vale, fora da picada, em absoluto corta mato.
 
Como a noite estava completamente cerrada, a distancia entre cada um de nós encurtou e, por vezes, tínhamos que tocar no companheiro da frente para nos certificarmos da nossa presença.
 
Toda a noite foi passada a caminhar e de manhã, já com muito mais cuidado, tentámos ficar no caminho do objetivo e já de noite fizemos o circulo normal de segurança, para aí pernoitarmos.
 
Aí ouvíamos, ao longe, choros de crianças, o que nos dizia que estaríamos muito perto do aldeamento.
Pela manhã formamos novamente e fizemos a aproximação, com as primeiras secções a dividirem-se, um pouco, para a esquerda e direita e assim podermos entrar no acampamento.
 
A entrada foi rápida e não foi disparado um único tiro, pois só foi encontrado uma pessoa idosa (kokuana) e várias galinhas, que imediatamente foram apanhadas, atitude quase normal nestes casos.

Saímos imediatamente do local, começando o regresso ao quartel.
 
Um companheiro do meu pelotão que normalmente levava o morteiro 60mm, aproveitou e colocou-o, com uma corda, ás costas da kokuana, aproveitando, assim, para descansar um pouco do seu peso.
 
Fizemos uma paragem, salvo erro para almoço, quando ouvimos uns fogachos e gritarias de "tropa ué", "tropa ué" e neste momento, sem ninguém saber como e porquê, dá-se um ataque de abelhas que leva alguns companheiros a fugirem do local.
 
Foto de Jose Monteiro.
 
Nunca tinha visto nada assim.
A desorganização militar foi total.
Com o passar do tempo fez-se o reagrupamento e alguns estavam muito mal tratados e houve necessidade de chamar o hélio para evacuação, pois alguns já não conseguiam ver, tal o inchaço na zona da vista.
Aproveitando a confusão a kokuana esboçou uma tentativa de fuga, e foi prontamente capturada.

A operação acabou ali mesmo, tendo regressado novamente ao quartel rapidamente.
 
Linda-a-Velha, Novembro de 2012

 
José Silva Abelhas, um dos grandes inimigos da tropa!
 
 
Januario Batista Jorge A fluidez da tua escrita é um encantamento e contrasta com a espontaneidade com que as abelhas deixam o enxame para nos fazer os seus habituais "mimos ".
Gostei muito ... Bem hajas !!!
 
Duilio Caleca Bonita narrativa, gostei.
Quanto ao ataque de abelhas, lembrei-me que uma vez, foi algo que senti no corpo e não gostei.

 
Bernardino Martins Duilio Caleca Cheguei mesmo agora a casa, correu tudo bem, passei por Tunes para saber as condições da nossa conversa, amanhã vás-me mandar por email.
 
 
Antonio Fialho Fialho Sem duvida uma grande arma (defesa) do inimigo. Pois por muito cuidado que houvesse eramos quase sempre detetados.
Impossível não haver qualquer barulho.
Abraço a todos
 

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